Será que sua mente é cega e você não sabe? Conheça um pouco mais sobre AFANTASIA

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    Será que sua mente é cega e você não sabe? Conheça um pouco mais sobre AFANTASIA

    As falas abaixo são de uma cena do sétimo episódio da primeira temporada da série da Netflix chamada “Space Force”: 

    – “Feche os olhos e imagine o Ronald McDonald em cima de uma prancha de surf…o que você vê?
    – Nada. É como olhar para uma folha de papel em branco”
    – Meu Deus! Você não tem imaginação! Isso é adorável!
    – Isso é uma condição que tenho. Se chama afantasia.”

    Dizem ter sido a primeira vez que se falou de afantasia em uma série ou filme. Mas afinal, o que é afantasia? 

    Trata-se de uma falta de capacidade de visualizar algo de forma voluntária.

    Desde 1880 se conhece esta condição humana. Francis Galton, um antropólogo e estatístico inglês, ao realizar um estudo sobre imagens mentais, descobriu que alguns participantes não conseguiam visualizá-las. 

    Este estudo ficou inativo até 2005, quando Adam Zeman, neurólogo clínico inglês especializado na neurociência cognitiva, foi abordado por um homem que disse ter perdido a capacidade de visualizar após uma cirurgia cardíaca. Aprofundando os estudos sobre o tema, Zeman publicou em 2015, na revista Cortex, um artigo denominando essa condição como “afantasia” e a partir daí, muitas pessoas reconheceram ter “a mente cega”. Hoje em dia estima-se que 1 em cada 50 pessoas tenha esta condição.

    Zeman afirma que a afantasia “não é uma doença” ou precisa ser corrigida. É simplesmente uma variação na experiência humana que pode ser identificada em um espectro de 0 a 10.

    O britânico Niel Kenmuir, por exemplo, sofre dessa condição desde a infância. “Quando eu não conseguia dormir, meu padrasto me falava para contar carneirinhos e ele explicou o que significava”, contou ele à BBC. “Tentei fazer isso e não consegui. Eu não conseguia ver nenhum carneiro pulando sobre as cercas, não havia nada para contar.”

    Será que isso já aconteceu com você?

    Afantasia & Memória

    A lembrança de algum acontecimento para a maioria das pessoas costuma vir a partir de imagens ou em sequência de imagens, como em um vídeo. 

    Para quem tem afantasia, a memória é baseada em fatos (nomes das pessoas, palavras que descrevem os acontecimentos, correlações), não em imagens. 

    Afantasia & Criatividade

    É curioso que na cena descrita no inicio deste texto, oriunda da série Space Force, o personagem que tem a “mente cega” é taxado como “sem imaginação”. Falta de visualização é bem diferente de falta de imaginação ou de criatividade! 

    Existem inúmeros exemplos de profissionais com carreiras de sucesso que reconhecem ter afantasia e aqui listo alguns:

    • Ed Catmull, ex-presidente dos estúdios de animação Pixar e Walt Disney, que tem uma “mente cega” e descobriu, após uma pesquisa com seus colaboradores, que alguns dos melhores animadores do mundo também apresentam esta condição.
    • Craig Venter, um geneticista que mapeou o primeiro genoma no ano 2000.
    • Blake Ross, um engenheiro de software norte americano criador do Mozilla Firefox.

    Além de áreas como da ciência e tecnologia da informação, artistas também podem usar esta condição como um estímulo. Por não conseguirem usar referências visuais mentais, então precisam criá-las, acessando outras fontes de inspiração! 

    Glen Keane, que criou a personagem Ariel do filme “A Pequena Sereia” não produz imagens visuais em sua mente, mas nem por isso deixou de ganhar um Oscar.  “Ele é verdadeiramente extraordinário. É um dos melhores animadores da história da animação feita à mão”, afirmou Ed Catmull. Seu jeito de trabalhar e criar “significa que ele está olhando bem no fundo, para suas emoções e isso é que move seu desenho”.

    Algumas condições de nossa mente ou corpo que podem ser vistas como limitações por algumas pessoas podem ser também superpoderes. 

    O que isso tem a ver comigo?

    Trouxe esse tema à tona porque recentemente meu filho me disse que se deu conta que tem “afantasia”. Várias coisas fizeram sentido:

    • sua dificuldade de ler livros em geral e, especialmente, os de ficção. Ele compensa isso sendo um ávido consumidor de vídeos e música.
    • sua necessidade de deixar tudo em seu campo de visão para ajudá-lo a lembrar. “Se não vejo, não lembro”, ele sempre me diz. Isso explica um pouco a bagunça do quarto dele…rs
    • a forma como lidou com a perda abrupta do pai aos 12 anos; pessoas com afantasia parecem ter uma capacidade maior de “seguir em frente” em situações traumáticas. 
    • o valor que dá para o presente, para o momento, sem pensar muito no passado e sem planejar muito o futuro. 

    Como Coach já percebi também que algumas pessoas têm mais dificuldade de responder a perguntas que exijam descrever ou visualizar algo em suas mentes. Hoje, ciente desta condição, sei que preciso ajudá-las a acessar seus sentimentos de outra forma.

    O que isso tudo tem a ver com você?

    A afantasia prova que as pessoas usam mecanismos diferentes para alcançar os mesmos resultados. Cada pessoa funciona de um jeito. E isso não está necessariamente relacionado à qualidade do que ela faz. 

    Há grandes diferenças na vida interior de cada pessoa. Se você se conhece, terá um nível maior de consciência do porquê de alguns comportamentos e isso já é um grande passo para entender melhor você e quem está ao seu lado também.

    Compartilho abaixo alguns links interessantes sobre o tema. Se você se identificou ou sabe algo mais sobre afantasia, escreva para mim nos comentários, ok? 

    Canal “Wired UK: https://www.youtube.com/watch?v=Xa84hA3OsHU

    Artigo publicado na revista científica Cortex: https://www.researchgate.net/publication/320688372_The_blind_mind_No_sensory_visual_imagery_in_aphantasia

    Teste: https://aphantasia.com/vviq/

    TEDex: https://www.youtube.com/watch?v=arc1fdoMi2Y e https://www.psychline.in/blog/understanding-aphantasia/

    Flavia Perez é sócia da Unblur Consultoria e atua na Gestão de Carreira e Desenvolvimento de Lideranças.

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