Santiago de Compostela: Ha um ano eu cumpri este desafio e hoje sinto o valor de todo o aprendizado desta jornada.

Escolher um lugar para conhecer dentre tantas opções é sempre desafiador. Em 2018, a escolha foi por uma viagem muito especial. Uma viagem que permitiu ao mesmo tempo conhecer lugares e pessoas e, reconhecer muito de mim mesma.

Decidi realizar o Caminho de Santiago de Compostela e é neste momento que inicia a jornada. Desde o início encontrei muitas pessoas pelo caminho. A primeira, foi meu amigo Wagner Braga, que realizou o caminho em 2018 compartilhando sua experiência e dicas preciosas. 

Quase concomitante conversava com minha amiga de toda a vida – Leda Boger e, decidimos realizar o caminho juntas. Decidimos a data, passagens compradas e seguimos para a preparação.

Muito se pode aprender com outros peregrinos e seus relatos nas redes sociais. Mas é fundamental que você comece a fazer o “teu caminho”. Aqui encontrei a ACACS – Associação de Confrades e Amigos de Santiago de Compostela, participei de várias palestras e comecei a testar os equipamentos. Sim, testar! O que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. É preciso encontrar o “seu caminho, os seus equipamentos”. E tudo começa com escolher uma bota adequada e amaciá-la. As caminhadas em vários terrenos são fundamentais para entender como ela se comporta. Aqui entraram caminhadas preparatórias promovidas pela ACACS. Testar a bota, mochila, capa de chuva e, especialmente a sua resiliência. 

Isto acontece muito em nosso dia a dia. Alguém oferece a dieta milagrosa, ficar com o corpo sarado sem esforço, ficar rico , etc. O que funciona para você? Quando nos conectamos com a nossa essência é mais fácil ler os sinais e observar o que o corpo está nos falando. E assim, passo a passo eu fui me preparando.

A preparação também exige desapego. Durante a caminhada você carrega tudo o que você precisará em sua mochila. O que levar? O que não levar? 

“Desapego é um estado no qual a pessoa supera seu apego ao desejo por coisas, pessoas ou conceitos do mundo e, assim, alcança uma perspectiva elevada.”

Minha mochila chegou ao peso de 6 kg considerando: a mochila, bastões, garrafa de água, capa de chuva, saco de dormir, itens básicos de higiene, roupas, enfim todo o necessário. Em outros tempos eu precisaria de tanta coisa…

O que você escolhe colocar na mochila é semelhante ao que você coloca na sua vida, desde coisas até pessoas. Ela pode ser leve ou muito pesada. Cada um faz suas escolhas.

O Caminho de Santiago de Compostela é uma jornada para dentro de si. Cada pessoa tem seu ritmo, suas necessidades, seu propósito.

Aqui eu trago a importância do estabelecimento de acordos. Minha amiga e eu temos perfis muito diferentes, por isso nos entendemos muito bem. Ela é reflexiva, gosta de privacidade, sensitiva, aprecia detalhes, preza pela harmonia, entende pessoas, experimenta enquanto a vida acontece e têm um coração do tamanho do mundo. Eu, sou o oposto. Adoro estabelecer conexões e relacionamentos, conhecer gente, aprecio o processo como um todo, antecipo o que poderá ser, prezo pela verdade e justiça, amo fazer planos, gosto de planejamento, pontualidade e sou mais razão.Como diz minha amiga: “nossas diferenças – somadas e respeitadas – nos fazem melhores… tipo, somamos 1+1=3”. Nossos valores em comum nos fortalecem, então combinamos que iríamos juntas, mas cada uma faria seu caminho, a seu ritmo. E assim, seguimos!

Escolhemos o caminho francês e, durante o caminho de Leon a Santiago de Compostela, encontramos muitas pessoas maravilhosas e, logo no primeiro dia conhecemos as queridas Maria da Saleti Redondo de Assis e Mariana de Assis – mãe e filha.E aí estava formado o “quarteto fantástico” ao qual dedico minha especial gratidão, com duas “Saletes”, imaginem as duas respondendo ao mesmo tempo… Desfrutamos cada dia da jornada juntas. Leda e Saleti com um olhar incrível para cada detalhe e beleza do caminho. Seus registros fotográficos capturaram um olhar generoso de toda jornada. Mariana e eu cuidamos da logística: o planejamento da caminhada, a Km diária a ser percorrida, o terreno a ser enfrentado, o albergue a ser reservado, o lanchinho, etc.

Compartilhamos alojamento, métodos para “costurar bolhas”, dores e desconfortos, a beleza do caminho, o sabor do “menu peregrino” , o vinho diário e histórias engraçadas.

Foram 13 dias de caminhada e um total de 315 Km e, no dia 01 de junho chegamos a Santiago de Compostela. Algumas pessoas me perguntaram o que senti na chegada ao santuário e eu respondi que minhas descobertas foram durante o caminho: descobri a importância de cuidar da saúde ao ver pessoas de 80 anos fazendo o caminho completo (+ 800 km), entendi que cada pessoa tem seu ritmo na vida e precisa ser respeitado, percebi que meus pés me levam longe, mas minha mente e coração muito além…

Uma feliz coincidência proporcionou o encontro com o querido Filipe Coutinho que chegava pelo caminho português. Chegamos no mesmo dia ao santuário…

A preparação física e a escolha correta dos equipamentos são muito importantes para tornar o caminho mais leve. Entretanto, muitas vezes, depois de mais de 20 Km caminhados, os últimos 3-5 Km e a cidadezinha logo ali pareciam não chegar nunca. E aí, com toda a dor que possa estar sentindo, é tua mente e coração que te guiam passo a passo até o descanso merecido.

“Quando penso que não posso mais, experimento para ver se posso mais um pouco”. Madre Paulina

A saudação utilizada por todos os peregrinos independente de sua origem ou idioma é “Buen Camino”! E caminhamos com tantas pessoas fantásticas: Heloísa, Gia Mio, Angela, Alfonso…

Alguns fatores determinantes para a realização desta jornada e que podemos aplicar a tantas outras situações de nossa vida:

Planejamento: a elaboração de um plano para a realização da aventura, envolvendo o antes, durante e depois é tão importante quanto a flexibilidade para realizar ajustes que se façam necessário ao longo da jornada

Preparação e disciplina: A preparação física e o teste de equipamentos antes da viagem ajudarão a entender um pouco do que irá encontrar. Mas é no caminho que a preparação e a disciplina no cuidado com o corpo, especialmente os pés farão toda a diferença. O ritual diário antes de sair para o caminho, durante a caminhada e na chegada ao albergue é um grande aliado para que desfrutes o caminho.

Conexão e ajuda: estar aberto para conhecer pessoas, para ajudar e ser ajudado, conhecer as razões e o propósito de cada um em realizar a jornada e sobretudo reconhecer suas necessidades.

Propósito e significado: Encontramos muitas pessoas pelo caminho. Algumas por uma razão, outras por uma emoção, por uma estação e tem aquelas que são pela vida toda. Cada uma delas deixa um pouco de si e leva um pouco de nós.

Gratidão: por todos os lugares por onde você passa, você não exige, você agradece.

Durante esta viagem reforcei o meu propósito: Conectar e impactar pessoas! 

Se eu voltaria a caminhar por aquelas trilhas? Sim, mas da próxima vez, farei os 800 Km.

Buen Camino! Desfrute a jornada!