17 gestores em 30 anos. Ep.#6 Uma história que me ensinou como habilidades emocionais contribuem para lidarmos com conflitos e adversidades. Me ajudou a ir além do que eu sabia sobre empatia.

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    Liderança

    17 gestores em 30 anos. Ep.#6 Uma história que me ensinou como habilidades emocionais contribuem para lidarmos com conflitos e adversidades. Me ajudou a ir além do que eu sabia sobre empatia.

    “Era um novo gestor e um dia ele gritou comigo na frente do meu time. Como isso poderia acabar bem?”

    Quando soube que meu chefe iria mudar de área, logo veio a notícia do seu substituto. Eu já o conhecia, sabia que era um profissional de carreira na área em que eu atuava, muito experiente comercialmente e havia sido super bem avaliado na última posição. Uau, um fera! Iria aprender muito com ele e fiquei entusiasmada.

    Logo pensei em como poderia impressioná-lo. 

    Montei um book com todo o portfolio de produtos, serviços, processos, organograma das áreas, etc., encadernei (pensem que isso faz muitos anos) e deixei aquela pasta linda em cima da mesa dele um dia antes de sua chegada. Queria que ele sentisse toda a minha receptividade e que soubesse logo de início que minha gestão era transparente e organizada.

    Na época eu não sabia que existia uma coisa chamada “comunicação empática”. Ele era um sujeito de perfil dominante e influenciador (quem conhece o DISC já entendeu o perfil). Cometi um erro clássico, pois ele não teria paciência de ler tudo aquilo e aquele material não tinha significado algum para ele. Talvez só tenha dado a impressão de que eu poderia ser uma burocrata. 

    Acho que ele jamais leu nada daquilo, o que me teria poupado bastante tempo, mas a pegada dele era de conversa olho no olho, bem objetiva e com resultados claros a serem alcançados. Em nossa primeira reunião ele só quis entender quais eram as metas do ano, como teriam sido definidas, quanto já estavam alcançadas e como. Com foco em resultado, ele colocou meu time comercial na mira o que me deixou muito insegura.

    Passado um tempo, estávamos em sua sala eu e mais 2 gestores bem seniors do meu time, quando durante uma discussão sobre critérios de distribuição de meta, eu o contrariei e ele me respondeu aos gritos. Eu tendo a não perder o controle facilmente, olhei para ele naquele exato momento, disse apenas ok, me levantei, passei na minha mesa, peguei minha bolsa e fui para casa. Eram umas 15h. Eu fervia por dentro. Como aquele cara era babaca! Era mais um que vinha com uma receita de bolo pronta e começava a cuspir regras e depreciar indiretamente tudo o que já havia sido feito ali.

    No dia seguinte, eu voltei. Meu time precisava de mim, já que todos se sentiam perdidos com as novas direções e conflitos de estilos de gestão que existia entre nós.

    Refleti muito sobre aquilo tudo e eu não iria afundar minha carreira por causa de uma reação intempestiva dele. Eu precisava me reposicionar. Em meio a uma dor profunda, eu percebi que precisava fortalecer meu plano B, porque eu não tinha onde pisar fora dali. Não tinha um CV atualizado, conversas com o mercado, uma marca própria bem desenvolvida e decidi não ficar mais refém de uma situação como aquela.

    Como o tempo, a raiva foi passando. Pensei muito a respeito para entender o que realmente estava acontecendo. Ele tinha razão em suas colocações, eu reconhecia isto. Mas, havia uma necessidade dele se impor e minha de ser reconhecida que conflitaram o tempo todo. Com o tempo, eu entendi o que era importante para ele e ele também percebeu o meu valor. Fomos nos alinhado e nos aliando aos poucos.

    Enquanto eu tentava lidar com aquela situação, decidi cuidar do meu futuro. Só pensava em não ser mais refém de situações assim novamente. Refleti sobre o que eu mais gostava de fazer, quem eu queria ser fora dali, o que mais agregaria valor para o meu posicionamento de mercado que serviria tanto para me fortalecer atualmente quanto para um plano B de carreira, investi em conhecimento, intensifiquei meu controle financeiro e dei mais foco para a minha visibilidade no mercado. Isso me fortaleceu muito, internamente inclusive.

    Ele se retratou publicamente um dia, embora não especificamente sobre aquele episódio, mas sobre ter mal interpretado nossos esforços anteriores, sobre ter subvalorizado nosso time e principalmente por ter se exaltado indevidamente algumas vezes. Agradeceu nossa receptividade e a capacidade de adaptação que tivemos ao seu “estilo de gestão”.

    O tempo passou, como disse, fomos nos aliando cada vez mais à medida que melhoramos nossa comunicação, conseguimos ter mais empatia um com o outro, fomos estabelecendo um vínculo de confiança e nos tornamos grandes parceiros em busca de objetivos comuns. 

    Anos depois, já ao final do seu período na empresa, ele se abria muito comigo. Conversávamos sobre nosso o futuro ali.  Ele era inteligente e muito perspicaz, logo se deu conta dos sinais que mostravam o fim daquele ciclo. Ele se preparou com antecedência. Estava bem estruturado financeiramente, mas queria entender como lidar com tudo aquilo. 

    Um dia eu indiquei para ele o coach que havia apoiado meu marido muitos anos atrás. Ele instantaneamente topou fazer contato e contratou um programa que foi concluído depois da sua saída. Diz ele que foi de fundamental importância toda as descobertas e decisões que tomou durante o coaching.

    Hoje, somos grandes amigos! Ele é meu guru, meu mentor, meu seguidor nas redes sociais, torce por mim genuinamente. Almoçamos longamente quando é possível e nestes tempos de confinamento, não passamos um mês sem trocar mensagens para colocar a conversa em dia.

    Aprendi muito com este episódio e divido aqui com vocês alguns aprendizados:

    • Vale a pena respirar e deixar a poeira baixar para ter clareza da situação. O calor das emoções deixa tudo “blured”, embaçado. 
    • Comunicação empática aumenta o nível de confiança e encurta o caminho do entrosamento. Ser empático também é ter clareza de como o outro processa o que você diz.
    • Confiança é uma via de mão dupla. Se não estivermos dispostos a dar um crédito, pode ser que não ganhemos um também. 
    • Por traz de uma comunicação violenta pode haver uma necessidade não atendida. Dizer o que você sente com base em um fato e pedir a compreensão do outro sobre o que é importante para você é praticar a comunicação não violenta.
    • O julgamento bloqueia nossa escuta ativa e nos limita perceber uma situação com base em outras referência que não as nossas próprias. Humanos que somos, julgamos automaticamente de acordo com nossas referências, mas uma pausa para reflexão isenta e o verdadeiro exercício de empatia pode nos trazer perspectivas bem diferentes (e positivas) em relação ao outro.
    • Estar preparado para o futuro traz muita autoconfiança e tranquilidade para tomar decisões. Esta preparação requer planejamento, porque envolve identificar quais novos aprendizados serão necessários para o que queremos construir, qual apoio emocional necessitamos para fortalecer nossas decisões e como lidaremos com nossas finanças para nos motivarmos a assumir riscos.
    • As pessoas que mais nos irritam involuntariamente ensinam muito sobre nós. Basta tentarmos descobrir que tipo de necessidade nos despertam para gerar este incômodo interior. Este exercício nos permite ampliar o autoconhecimento.

    Descobri que o reconhecimento é algo importante para mim, mas não qualquer um. Preciso sentir que faço algo realmente relevante. 

    • Todas as relações têm potencial para nos ensinarmos algo se estivermos abertos ao aprendizado com o outro. Aprendi muito com ele sobre gestão comercialgestão do tempo e foco em resultado.

    Mais uma vez, escrevendo aqui, reforço para mim mesma que o ser humano vale muito a pena! Adoro gente e os universos individuais infinitos que existem dentro de cada um. Esta história começou muito mal, mas posso reconhecer que habilidades como 

    • gestão das emoções, 
    • adaptabilidade, 
    • orientação para resultados, 
    • empatia, 
    • gestão de conflitos e 
    • trabalho em equipe 

    permitiram que construíssemos um final feliz.

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