O dia que disseram que eu perguntava demais

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    Liderança

    O dia que disseram que eu perguntava demais

    Certa vez fui chamada pela pessoa responsável da área onde eu trabalhava para uma reunião. Ela queria conversar comigo sobre algo que estava incomodando as pessoas. Qual não foi minha surpresa quando ela falou: “Você faz muitas perguntas.”

    Quem pode achar isso um problema? Desde quando demonstrar interesse pelo seu entorno é negativo? Por qual razão querer se aprofundar nos temas incomodaria alguém? Que tipo de medo impede as pessoas de compartilharem conhecimento nas organizações?

    Confesso que até hoje não entendi, mas também deixei de ter interesse por este ambiente de trabalho onde a curiosidade e questionamento do colaborador não são valorizados.

    Perguntas demonstram curiosidade. Sem isso, não seria metade de quem sou hoje.

    Um dos livros que mais me marcaram na primeira infância foi “O Livro dos Porquês”.

    Naquela época, sem internet, o acesso a informação era limitado. Ou buscávamos conhecimento nos livros e enciclopédias ou perguntávamos aos nossos pais. Era uma época de mais conversas nas famílias.

    Hoje em dia, basta jogar a pergunta no Google e acharemos as respostas de diferentes fontes, em diferentes formatos. O acesso às respostas está mais fácil. Por isso é que o desafio é saber fazer as perguntas.

    Perguntas promovem o desenvolvimento.

    Há um estudo britânico que constatou que uma criança na faixa dos 4 anos faz mais de 300 perguntas por dia. Elas querem entender o mundo a sua volta. Quem é mãe ou pai sabe o quanto nos desenvolvemos como pessoa quando temos que responder às perguntas que eles nos fazem. Para muitas delas, nunca paramos para refletir até que nossos filhos nos perguntaram. E por que não? Em que momento perdemos a curiosidade? O que é preciso para resgatarmos nosso arsenal de perguntas?

    Como mãe, aprendi que uma das melhores formas de iniciar uma resposta aos seus filhos é colocando uma outra pergunta no lugar. Isso os fará refletir por conta própria e desta forma perceberemos seu nível de compreensão sobre o tema para então apoiá-los no entendimento da questão.

    Conforme vamos crescendo, parece que sentimos medo ou insegurança de fazer perguntas. É como se ao perguntar estivéssemos demonstrando que não sabemos de determinado assunto. E daí? Qual o problema? Desde quando a insegurança substituiu a curiosidade?

    Vivi uma situação de insegurança e dela ficou um grande aprendizado. Aos dezesseis anos, ainda cursando o ensino médio, comecei a lecionar inglês em um curso de idiomas no Rio de Janeiro. Tive um mês intensivo de formação para me tornar instrutora, com três horas diárias de treinamento. Era quase que uma lavagem cerebral. Por um lado me sentia preparada, mas minha maior dúvida era: “E se algum aluno me perguntar algo que não sei?”. Como professora, achava que deveria saber tudo!

    Meu pai, sabiamente, me aconselhou: “Filha, você sabe mais inglês que seus alunos. Se não fosse assim, não estaria lá para dar aula. Mas você não precisa e nem consegue saber tudo. E tudo bem. Caso alguém te pergunte algo que você não saiba, apenas diga que não sabe, mas irá procurar descobrir e na próxima aula dará a resposta. E não deixe de dar a resposta depois”. Simples assim.

    E foi desta forma, jogando as perguntas no mundo e buscando respostas para as coisas que não sei, que continuei meu aprendizado no idioma e na vida e instiguei meus alunos, amigos e familiares a aprenderem também.

    Perguntas geram empatia.

    Recentemente participei de um workshop que se chamava “Perguntatória – o poder das boas perguntas”. Éramos cerca de 10 pessoas e eu não conhecia nenhum dos participantes.

    Começamos com uma exercício interessante de apresentação que fugia ao tradicional “Sou blá-blá-blá. Trabalho com blá-blá-blá…” Nos dividimos em 3 grupos, e cada um deveria conhecer o outro a partir de perguntas. Surgiram perguntas como: “Como você se definiria para um estranho? O que trouxe de interessante em sua bagagem de vida em sua última viagem? Quais são as três coisas mais importantes para você? O que seria um dia perfeito em sua vida? O que você falaria sobre você que não costuma falar quando se apresenta para os outros?”

    Foi a partir destas perguntas diferentes que começamos a gerar uma conexão única naquele grupo e fez daquele evento um momento especial.

    E sabe quando você chega em uma festa, não conhece ninguém e precisa iniciar uma conversa? Faça perguntas. “O que te trouxe aqui? Quem daqui você conhece? Qual foi a última festa interessante que você foi?”. Ao iniciar a conexão com o outro, ao invés de iniciar uma competição de afirmações como “Eu fiz isso, eu fui aquilo, eu visitei aquele lugar…” demonstre interesse genuíno pelo outro questionando “”Onde foi que você mais curtiu? Que experiência te marcou mais?”.

    O segredo é demonstrar-se mais interessado do que interessante. Suas chances de sair dali com novas amizades e novos conhecimentos serão maiores do que se você passar a festa inteira com a boca mais aberta que os ouvidos.

    Perguntas ajudam a criar algo novo e encontrar a solução.

    Claude Lévi-Strauss, o antropólogo e filósofo belga, dizia que “O cientista não é o homem que fornece as verdadeiras respostas; é quem faz as verdadeiras perguntas”.

    Hoje em dia se fala de várias formas de ser produtivo no trabalho, incluindo fazer reuniões em pé para ser mais focado. Prefiro acreditar que se os objetivos da reunião estiverem claros ela irá durar o tempo necessário. Sem mais nem menos. E para isso, é importante definir: qual questão exige o encontro do grupo? Qual o resultado esperado daquela reunião?

    Desde o início, tudo começará com perguntas. E serão as perguntas mais simples que resolverão as questões mais complexas. No trabalho e na vida.

    Perguntas são sementes para o autoconhecimento.

    Faz parte de meu trabalho como coach e consultora fazer perguntas. Isso porque o conteúdo mais autêntico está dentro de cada um. As possibilidades são infinitas!

    Minha experiência me norteia a saber qual pergunta fazer para acessar aquele ponto que de fato irá gerar um insight, uma visão, uma alternativa.

    Uma cliente me disse outro dia “Estas perguntas são difíceis!”. E respondi: “Mas esta é a intenção! Como acessar suas profundezas se as perguntas forem superficiais? Como vamos promover seu autoconhecimento só com o que você já sabe sobre você?”.

    Perguntas são as chaves para abrir as portas. Às vezes uma única chave abre. Às vezes são necessárias diversas chaves.

    Quais perguntas você precisa responder para se conhecer melhor? O que faria você expandir as possibilidades em sua vida?

    Perguntas nos inspiram a agir

    O que você tolera hoje em dia? Quais são seus medos? O que te daria clareza para tomar uma decisão importante? Qual pergunta você ainda precisa se fazer? Por onde começar?

    O questionamento nos inspira a inovar. Catalisa mudanças. Nos liberta de padrões e crenças e nos levam a explorar nossa imaginação, a buscar novos caminhos para velhos problemas.

    Bem, talvez você me veja mais por aqui fazendo muitas perguntas. Pois perguntar é a arte de aprender e se conectar com o outro e estas são as duas coisas que mais amo fazer!

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