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17 gestores em 30 anos: histórias do que aprendi com eles! Episódio #1
Dos 17 gestores que eu tive, um deles sem dúvida marcou de forma muito especial, não só minha vida, mas de todos que fizeram parte daquele dream team que ele formou. Isto foi muito tempo atrás.
Ele faleceu há mais de dez anos e já estava aposentado quando nos deixou. Mas até hoje, aquela equipe é reunida num grupo de whatsapp e vez ou outra ficamos imaginando o que ele diria numa determinada situação polêmica. E, damos muita risada juntos, lembrando das coisas que ele dizia e fazia. Um sentimento saudosista muito positivo como se ele ainda estivesse ali nos influenciando.
Como ele se tornou a maior referência em gestão de pessoas que já tivemos?
Como ele podia ser tão querido por todos nós a ponto de tantos anos depois ainda nos referirmos a ele com enorme carinho e até reverência?
Como ele podia ser tão admirado se muitas vezes era absolutamente irritante?
Como ele conseguiu nos manter unidos mesmo sem estar presente há anos?
Ele era um líder nato, que rasgava o protocolo e fazia o que o coração mandava em primeiro lugar. Isto era incrível, mas ao passar do limite ele se tornava paternalista.
Como um pai, ele batia e abraçava, tudo isso intensamente e indistintamente. Abraçava a todos, no sentido literal e figurado. Ouvia, vibrava, alegrava, incentivava, elogiava muito, ensinava, aprendia, pedia ajuda, pedia desculpas, ria muito, confiava até demais. Ao mesmo tempo, cobrava, exigia pontualidade e exatidão, perdia a paciência, se estressava, reclamava, não filtrava muito questões que não tínhamos maturidade para entender, nos inflamava às vezes, era extremamente protecionista.
Ele dava um feedback como ninguém. Você saía daquela reunião, que mais parecia uma sessão de coaching, se sentindo uma potência e praticamente se orgulhando do que iria fazer para melhorar.
Enfim, ele era intenso, mas não se colocava no centro do palco. Era focado em dar visibilidade para o seu time, valorizava cada um de nós como se fossemos “os melhores” (e éramos muito bem avaliados mesmo). Colocava seu time à frente de si mesmo!
Virávamos noites trabalhando para cumprir prazos, para homologar sistemas, entregar relatórios, mas era muito divertido porque ele estava sempre junto. Às vezes mais atrapalhava do que ajudava, mas nunca arredou o pé. E, ele fazia questão de comemorar datas junto da equipe, então organizava festas fantásticas nos finais de ano, nas épocas de São João, nos aniversários. Inesquecíveis! Aquilo sim era confraternização! Voltávamos para o trabalho energizados e leves.
Um dos episódios mais marcantes da minha carreira foi quando eu voltei da licença maternidade do meu segundo filho, que naquela época era de 4 meses. No primeiro dia ele me chamou e disse que eu havia sido indicada para uma nova posição na área, de mais responsabilidade e visibilidade. Disse que eu era qualificada para a posição, mas achava que seria mais tranquilo para mim, agora com dois filhos, continuar na posição que eu estava. Ele realmente achava que me aquietar naquele momento era melhor para mim, pensando no contexto geral da minha vida. Eu e meu marido sozinhos em São Paulo, com duas crianças, sem nenhuma ajuda familiar. Mas, eu não tive dúvida. Já que era para deixar meus filhos o dia todo numa escolinha, que fosse por algo maior e que pudesse me dar melhores condições de crescimento. Ele foi muito parceiro, me apoiou e jamais me cobrou pela decisão que tomei.
Um dia ele me mandou numa reunião em seu lugar e eu fiquei muito tensa porque talvez eu tivesse que me posicionar sobre alguns temas que não tinha total segurança. Nunca esquecerei o que ele me disse quando eu perguntei “ e se eu fizer uma merda?”. Sua resposta foi rápida “Não se preocupe, depois eu limpo, pode ir”. E, eu fui! Cheia de confiança e jamais me esqueci do impacto que foi ser encorajada daquela forma.
Eu tive a honra de ser seu backup preparada por ele para sucedê-lo. Quando pedi demissão para assumir um novo desafio em outra empresa, ele ficou triste porque queria me ver assumindo o seu lugar. Me disse estar decepcionado por não ter conseguido me dar espaço para crescer ali. Mal sabia ele o quanto me fez crescer, confiante e segura do que eu era capaz.